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A arte de argumentar está cedendo diante de opiniões rasas, sem qualquer construção racional ou prova que confirme ou negue a evidência do afirmado. Todos têm opinião sobre tudo. Nós, brasileiros, éramos milhões de técnicos de futebol, hoje também somos médicos, farmacêuticos, juristas, etc.
Não há problema em ter opinião. Mas quando a pessoa se torna opiniática, se aferra em suas ideias, é teimosa, não admite que possam existir outras formas de ver e entender as coisas, isso é um problema. O opiniático é incapaz de demonstrar sua afirmação através de raciocínio indutivo ou dedutivo de algo, ou da mostra de prova objetiva que confirme sua opinião.
O opiniático não admite debater, é um empedernido, insensível, inflexível que não se contenta em ter sua própria visão de mundo, mas deseja impô-la aos demais. Quando esta opinião inflexível encontra outros que lhe fazem eco, pode se transformar em fanatismo, passando a uma postura totalitária, em guerra declarada contra todos que discordam de seus pontos de vista.
Há uma onda de radicalismos (político e religioso, principalmente). É fácil identificar outros como opiniáticos ou fanáticos, apontando-os como destituídos de capacidade de racionalizar seus pensamentos, mas é raro pensar que isto também pode acontecer conosco, quando enunciamos preconceitos, algo que não se sustenta e não resiste uma demonstração lógica e pode ser consciente ou inconsciente.
Chamar alguém de idiota pode ser um preconceito a quem pensa diferente. Alguém taxado como comunista, responder que o outro é fascista (e vice-versa) pode significar que ambos se negam a discutir, pois cada um entende estar absolutamente certo. Chamar alguém de idiota, fascista ou comunista, dispensando a demonstração de que a ideia professada não se sustenta diante de uma conversa lúcida e racional, é tão absurda quanto a afirmação da qual se discorda.
O bom senso, nestes casos, não recomenda uma resposta da mesma qualidade, a resposta deve ser racional, embora mais trabalhosa. Poderá não convencer ao opiniático, mas evitará troca irracional de opiniões que não passam de adjetivação vazia e ineficaz e, com isso, aumentando o nível de radicalização. Ora, se o outro realmente é um idiota, sem capacidade de entender, é idiotice chamá-lo de idiota, pois ele não saberá o que é ser idiota.
Para enfrentar e reduzir o radicalismo, só o exercício da moderação, com argumentos lógicos, com firmeza para que não passe a impressão de aceitação do absurdo. Afirmações que buscam se impor pelo grito, pela opressão, devem ser desmontadas com argumentos para não aumentar o nível da radicalização.
Enfrentar o obscurantismo exige que não acrescer escuro à escuridão. Só a luz da racionalidade poderá reduzi-lo. O conflito de opiniões extremadas somente potencializa a escuridão intelectual.
Desarmar os espíritos beligerantes não significa ceder à barbárie, mas enfrentá-la com argumentação lógica e firmeza.